terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Papo de aluno com Caio


Papo de aluno com Caio

A ideia é incentivar alunos que estão vivendo ou já viveu uma situação diferenciada compartilharem suas experiências com os outros alunos, visando o crescimento do nosso corpo docente. Eu entrei em contato com o aluno Caio Vinícius Gomes Baltazar que está estudando Rose–Hulman Institute of Technology (RHIT) pelo programa ciências sem fronteiras.

Vida Acadêmica

Bem, com respeito à vida acadêmica, o sistema americano é bem diferente. Pra mim, é mais trabalhoso. Aqui temos bem menos horas-aula que no Brasil, mas muito, muuuuuuito mais homework. Todo dia tem tarefa de casa de todas as matérias e projetos pra se reunir, fazer e entregar. Logo, não há opção de não estudar. As notas não dependem tanto de prova, mas sim dos homeworks e principalmente projetos. Você não tem escolha a não ser estudar 8 horas por dia fora as aulas, que somam menos de 4 horas por dia no meu caso. As matérias que peguei são bem interessantes e desafiadoras. Aprendi bastante aqui. Mas tive que estudar por fora e passar muitas noites sem dormir trabalhando nos projetos. Os professores são muitíssimo bem preparados, mas também são muito compreensivos. Se você precisar de ajuda eles sempre colaboram. Toda aula eles disponibilizam um formulário de feedback anônimo sobre as aulas. Frequentemente recebem criticas pesadas, e fazem por onde melhorar. O que realmente faz efeito.
Com relação às provas, são sempre feitas em 50 minutos. Com 7 a 25 questões, dependendo do professor. Você tem que correr. Há bastante leitura obrigatória de autores renomados e autores polêmicos. Você acaba ficando por dentro do que é consolidado e do que é questionado. Acima de tudo, o mais legal aqui são os laboratórios. Laboratórios são aulas especiais em que o aluno recebe um passo a passo pra cumprir em sala de aula. Nesse passo a passo constam detalhadamente todas as etapas da exploração prática de algum conteúdo novo. Como, por exemplo, aprender a usar os conceitos SOLID na refatoração de programas ou praticar TDD ou BDD por exemplo. Nesse passo a passo geralmente constam códigos, vídeos, leituras e principalmente perguntas que você tem que responder baseado nos obstáculos que vão sendo apresentados no roteiro. Enfim, a vida estudantil na Rose é puxada. Não é pra qualquer um.

Adpatação e Gereciamento do Tempo

Nas primeiras semanas, fiquei um pouco assustado e achei que não ia dar conta. O que realmente fez diferença foi organizar uma agenda com todos os afazeres e prazos a cumprir, descarregando tudo da memória e passando pro papel. Quando fiz isso, comecei a ter uma visão geral do que tinha que ser feito e comecei a me organizar. Organizar o tempo é tudo por aqui. Checklists até não aguentar mais e listas de tarefas indo e voltando por e-mail.
Outro obstáculo foi a língua. Há muitos professores indianos e estrangeiros (não necessariamente americanos), o que te obriga a lidar com sotaques mais variados. Levei uma ou duas semanas pra me adaptar, mas depois ficou normal.

Reflexão sobre o ensino universitário no Brasil

Porém, pelo lado bom, a educação no Brasil não é ruim. Não me faltou base por aqui, pelo contrário, apesar das dificuldades me destaquei da maioria dos alunos logo no começo. Recebi elogios de todos os professores no final do trimestre. Alguns ofereceram até carta de recomendação. Ou seja, nossa educação não é fraca. Fracos são os interesses dos alunos e a disciplina em sala de aula imposta pelo professor. Comparando com os EUA, o que falta no Brasil é mais exercício pra forçar o aluno a estudar e fixar o conteúdo. Aqui não tem essa de estudar só antes da prova. Antes da prova você estuda MAIS. 

Ênfase à pratica

Aqui,  a educação é mais voltada para a prática. Todas as cadeiras daqui só muito orientadas a indústria. Pouca teoria. Os professores sempre trazem exemplos reais e demandam aplicações práticas dos conceitos, pois mais raras e exóticas que sejam. Eles querem ver a coisa sendo útil.

Maratona de Programação

Com relação à maratona, acho que estamos na frente. Pelo menos na minha instituição, a competição não é forte e fica em segundo plano. Apesar de eles terem uma cadeira só pra isso.

100% Universidade

Morar no campus é um grande bônus. Você vive 100% do tempo em na vida acadêmica. É bem diferente de a faculdade ser apenas uma parte da sua vida. Quando você mora no campus, a faculdade é o todo.
Os alunos daqui são reconhecidos pelo esforço e reputação. A instituição inspira orgulho nos integrantes, pelo nome e principalmente por ser muitíssima bem estruturada. As pessoas não tem medo de realmente fazer o melhor para os estudantes. Alguns dos ex-alunos costumam doar dinheiro para que a instituição possa comprar novas máquinas, criar novas salas ou melhorar os laboratórios.

Serviços Administrativos e Acadêmicos

Os sistemas acadêmicos são perfeitamente integrados, com sistemas de arquivo distribuído, sistema de notas e planos de aulas, sistemas de formulários e pesquisas, impressoras em rede com impressões gratuitas e banda larga wifi no campus inteiro. Você usa seu ID da instituição em todos os sistemas e tudo fica registrado, inclusive seu histórico de navegação. Você pode inclusive vigiar as máquinas de lavar roupa pelos sistemas internos. :)


Universidade é mais do que paredes

Para encerrar, estamos sim relativamente longe do nível de estrutura daqui. Não temos as salas com projetores automáticos em todas as paredes ou coisas extravagantes. Mas nossos professores tem qualidade e estão ao nível daqui. O sistema acadêmico é que é diferente. Não há tempo livre nem há tempo sem demandas. Tudo é cobrado imediatamente. E o aluno ou estuda, ou fica. Não tem meio termo ou brincadeira. Se há dificuldade legítima, o professor lhe atende pessoalmente.




Um comentário:

  1. O problema do "útil". "Util" para quem, com que finalidade, cara-pálida? Você é o util mas os outros é que PENSAM? Sem aprender as bases dos conceitos o perigo disso tudo é tornar-se um idiota-útil. No mais, de acordo.

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